Foto: Humberto Araújo
Gestor cultural, criador do festival de teatro Cena Contemporânea, que este ano completou três sólidas décadas, Reis foi secretário de Cultura do DF entre 2015 e 2018.
Nossos encontros sempre foram ótimos. Atencioso e amável, muito conversamos sobre cinema. Disse-lhe uma vez que se um dia eu ousasse fazer uma versão do clássico de Cervantes, num viés de releitura no Cerrado, ele seria escalado para o papel de Dom Quixote, pelo tipo físico e certeza que viveria bem o personagem e vestiria adequadamente as indumentárias contra os moinhos de vento. Ele riu, surpreso e agradecido, e emendou que já vivia, como artista brasileiro, na contramão dos ventos difíceis desses moinhos.
Em outubro do ano passado, no velório do cineasta Vladimir Carvalho no hall do cine Brasília, tive um impacto quando ele chegou de cadeira de rodas. Não sabia que estava doente, com problemas pulmonares. Mas não parecia nada debilitado de tão sorridente e altivo. Da mesma forma o reencontrei no mês passado, em sessões do Cena Contemporânea. Na saída de uma das peças na Caixa Cultural, nos cumprimentamos. Ele deu um aperto de mão, olhou-me fixamente com doçura e estendeu um sorriso sem nada dizer.
Ou queria dizer: lutando contra os moinhos de vento para continuar aqui.